terça-feira, 29 de maio de 2012

Amor sublime amor. Uma carta de amor desconhecida

É incrível como de onde você menos espera pode vir uma grande surpresa. Era uma quarta- feira quente, muito quente. Quer dizer, era dezembro, que é um mês abafado, mas eu tinha acabado de desembarcar de Barcelona, para mim o Rio era o inferno em vida. Minhas férias estavam terminando e junto com ela o ano de 2011, e para ser muito honesta, não vejo grandes coisas em festa de Réveillon. Gosto de festas. Mas tenho um pé atrás com essa obrigação da pessoa ter que estar feliz mesmo sem estar de verdade.
Ok, talvez seja o mau humor que o calor me dá. Vou ler um jornal para me atualizar e ocupar a minha cabeça. 
Passando o olho nas notícias, ainda meio blasé, eis que na parte do obituário - sim eu leio obituário, todos os dias! - Estava o meu fio perdido de esperança que ia embora junto com ano. Eu disse que estava irritada.
Do lado da notícia de um assalto tinha o seguinte anúncio fúnebre : 

Carlos Alberto Moreira Maia. 

Capitão- de - Mar- e - Guerra. 

Nascido 19.11.1933  morto 21.12.2011.
Beto querido, ultimamente você andava sentimental, e quando em vez 
dava de murmurar os versos do Antônio Carlos: 

Dia virá que eu não mais virei...
Dia virá em que eu não mais serei...
Eu fingia que não ouvia, e me assustava.
E aí o dia veio, o dia D, e com ele uma doida saudade. Agora o chão me falta. 
Só resta então olhar seu imenso mar, seu infinito céu, e procurar 
por você estre as estrelas. Por favor, mande um sinal! 
Faremos sua missa dia 28, às 6 da noite, na igrejinha do Leme. 
É enorme a tristeza da Lílian, da Pat e da Aninha, dos meninos, 
dos seus irmãos e dos seus amigos e ,indescritível, a dor 
da sua Maria.

Tive que ler duas vezes, eu não acreditei naquilo que estava vendo.
- Mãe, escuta isso - Li com calma e cuidado, é como se devesse velar algo. Na última frase lida, em voz alta, como se fosse um poema de Drummond, uma lagrima caiu. Que coisa linda, que amor! A partir daí me peguei pensando nessa família, que cresceu envolta nesse amor. Que mulher era aquela, que mesmo na dor de perder um companheiro de uma vida conseguiu fazer poesia? que homem era esse que merecia esse amor?
Pensei em ir na missa, mas minha sabia mãe conteve meus instintos impulsivos. No entanto, admito que mentalmente fiz uma carta, quase uma oração à dona Maria.

Cara dona Maria,
A senhora não me conhece, mas renovou as minhas esperanças no mundo. A sociedade anda muito burocrática, egoísta e as pessoas passaram a tratar o amor e a família como coisas descartáveis. Mas a sua carta para seu marido me fez acreditar que tudo pode ser diferente.
Por favor, a senhora que é tão sensível e amável, não pense mal de mim, não sou pessimista, mas acabei ficando racional demais. Foi muito revigorante ler as suas palavras de carinho a esse homem, mesmo em um momento de muita dor. Eu sinto muito pela sua perda. Mas seu imenso amor vai fazer a senhora superar. Eu espero que tenha uma ano novo, novo de verdade, uma ano novo como o de Drummond: " cor de arco-íris, ou da cor da sua paz; Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido; (mal vivido ou talvez sem sentido); para você ganhar um ano; não apenas pintado de novo, remendado às carreiras; mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; novo até no coração das coisas menos percebidas; (a começar pelo seu interior); novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota; mas com ele se come, se passeia; se ama, se compreende; se trabalha... "
Obrigada
Carolina.

Continuo sem levar fé em que, de dia pro outro, só porque o calendário definiu, você poder ser mais feliz, mas acredito que aqualquer momento você pode encontrar alguem, entre as estrelas, que te faça pensar e sentir diferente. Espero esse ano, que pode começar a partir do momento em você decide mudar, todos encontrem o seu capitão de mar e guerra. Dona Maria, um beijo.

Um comentário:

Renata disse...

é exatamente isso, que lindo carol! tá cada dia melhor nisso!!!
um beijo, Rê